Psicologia Positiva: uma breve abordagem

Muito se fala e se escreve hoje em dia acerca da felicidade e das formas e fórmulas para a alcançar.

Contudo, tal como explica Dalai Lama, a felicidade não é algo já pronto; vem das nossas próprias ações. Também a ciência se tem debruçado sobre este tema e muito se tem investigado sobre o que faz a vida valer a pena (Seligman e Csikszentmihalyi, 2000).

De facto, desde o início do século, tem-se investido na construção de conhecimento científico acerca dos fatores que trazem mais bem-estar à existência humana e proposto ações fundamentadas para potenciar esse bem estar. Atualmente, a par de um conhecimento aprofundado sobre as patologias e os desajustamentos psicológicos, já muito se avançou na investigação e intervenção direcionada para a promoção do florescimento individual e coletivo, da resiliência e da saúde psicológica (Rivero e Marujo, 2011).

Este movimento, chamado de Psicologia Positiva (Seligman e Csikszentmihalyi, 2000) não pretende minimizar o sofrimento humano, nem tão pouco desvalorizar os anos de estudo dedicados à compreensão e tratamento da depressão, ansiedade e outras perturbações psicológicas. Simplesmente, o seu foco é compreender e promover vidas e comunidades mais felizes e realizadas. Como explica Peterson (2006):

“A psicologia positiva é o estudo científico do que corre bem na vida, desde o nascimento até à morte e em todas as paragens pelo meio. (…) Todas as vidas têm picos e vales e a psicologia positiva não nega os vales. (…) O que é bom na vida é tão genuíno como aquilo que é mau e, por isso, merece igual atenção dos psicólogos. (…) ”

Sendo, então, a Psicologia Positiva a área científica que estuda as condições e processos que conduzem ao florescimento e bem estar dos indivíduos, faz todo o sentido que os seus contributos sejam também aplicados na promoção do bem estar das crianças e jovens, dirigindo esforços, desde cedo, na construção da sua saúde mental, ao invés de tratar exclusivamente as patologias. O bom caráter está no centro do desenvolvimento positivo dos jovens e este não é simplesmente a ausência de défices, problemas ou patologias, mas sim um conjunto de traços positivos bem desenvolvidos (Park e Peterson, 2009).

Estudos mostram que certas forças de caráter, como a esperança, a bondade, a inteligência social, o autocontrolo e a perspetiva funcionam como amortecedores dos efeitos negativos do stress e do trauma, prevenindo ou mitigando as desordens que lhes são inerentes. As forças de caráter, para além disso, ajudam os jovens a prosperar e estão associadas ao sucesso escolar, à liderança, à valorização da diversidade, à capacidade para adiar recompensas, à bondade e ao altruísmo (Scales, Leffert e Blyth, 2000, citados por Park e Peterson, 2009).

Outros estudos indicam que as forças de caráter estão também associadas à diminuição do uso de drogas e álcool, tabagismo, violência, depressão e tendências suicidas (Benson, Leffert, Scales e Blyth, 1998; Hawkins, Catalano e Miller, 1992; Meyer, Farrell, Northup, Kung e Plybon, 2000; O’Donnell, Hawkins, Catalano, Abbott e Day, 1995, citados por Park e Peterson, 2009).

Artigo por: Mafalda Lobo de Carvalho (Mestrado Executivo em Psicologia Positiva Aplicada, ISCSP e Responsável pelo programa “Semear Valores)

Referências Bibliográficas:

Park, N. & Peterson, C. (2009). Strengths of character in schools. In Rich Gilman, E. Scott Huebner, Michael J. Furlong. Handbook of positive psychology in schools (1ª edição, pp. 65-76). Taylor & Francis.

Peterson, C. (2006). A primer in positive psychology. New York: Oxford University Press.

Rivero, C & Marujo, H.A. (2011). Positiva-Mente. Esfera dos Livros.

Seligman, M. E. P. & Csikszentmihalyi, M. (2000). Positive psychology: an introduction. American Psychologist, 55 (1), 5-14

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